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domingo, abril 18, 2010

No Sótão

Através da janela alguns raios de sol entravam tímidos naquele sombrio cômodo. Há anos ninguém entrava ali. Há anos ele estava abandonado.

As teias de aranhas que nele se apoiávam, estavam intocadas, já que até os insetos tinham-no deixado. Sua única companhia durante as breves horas de luz eram os raios de sol amigo que esquentavam o relevo dourado de sua capa que um dia fora de um tom de vinho considerado muito refinado.

As páginas iam amarelando-se gradativamente, à medida que o tempo passava e deteriorava seu corpo, por falta de cuidados.

Seus tempos de glória em que ele postava-se imponente no alto da estante pareciam-lhe um passado tão longínquo que nem lhe causavam saudades. Ainda mais ali, jogado no meio do assoalho como se todas as palavras que guardava com tanto carinho, para qualquer um que as quisesse, não tivessem nenhuma importância.

E durante uma eternidade, com longas noites melancólicas, essa foi a sua única existência, sem qualquer beleza ou utilidade.

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