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domingo, abril 18, 2010

Descrição

Observava a paisagem aquele que além de postura austera, possuía as costas arqueadas de quem carrega o peso de toda uma vida nas costas. Os olhos azuis frios e tristes, através de seus óculos, que a fraca visão pedia, viam os animais de que cuidou a vida inteira.

Suas mãos calejadas e cansadas seguravam seu corpo em pé frente à janela, com os dedos de unhas sujas e maltratadas apertando com força o parapeito.

E a respiração forte, que demonstrava um esforço que antes não era preciso, fazia sua camisa velha e desbotada inflar e voltar num movimento constante. Isso, aliado aos seus cabelos e bigodes grisalhos ilustravam a expressão de quem refletia sobre ações de mais de uma vida.

Gradação de Fabiano

Inicialmente, Fabiano é caracterizado como um homem, um ser humano que toma uma atitude comum, igual a outros homens. Como fazer um cigarro de palha, já que fumar é um comportamento comum na sociedade.

Depois, ele mesmo constata que deixou de ser um ser humano, afirmando que é um bicho. No sentido de não ser mais racional, reconhecendo-se como um animal. Alguém que é irracional e age por instinto.

Em seguida, ele confirma que deixou de ser um ser humano, agindo como tal, aparecendo em um local e escondendo-se no mesmo. Entretanto, ele se encontra estagnado naquele lugar por tanto tempo que passa a se sentir enraizado ali. Neste momento, ele se transfere de categoria deixando de ser animal e passando a ser planta.

Ainda sendo um ser vivo, uma planta fica enraizada, presa, sem a possibilidade de ter liberdade, e é isso que ele afirma sobre si mesmo e sobre sua família.

E num último momento, mostrou-se um traste, ou seja, deixou de ser um ser vivo e tornou-se um objeto, um elemento da paisagem. Mesmo sendo útil, era substituível.

Com essas características pode-se perceber que a personagem Fabiano apresenta uma gradação descendente, decaindo de homem a um objeto sem vida.

No Sótão

Através da janela alguns raios de sol entravam tímidos naquele sombrio cômodo. Há anos ninguém entrava ali. Há anos ele estava abandonado.

As teias de aranhas que nele se apoiávam, estavam intocadas, já que até os insetos tinham-no deixado. Sua única companhia durante as breves horas de luz eram os raios de sol amigo que esquentavam o relevo dourado de sua capa que um dia fora de um tom de vinho considerado muito refinado.

As páginas iam amarelando-se gradativamente, à medida que o tempo passava e deteriorava seu corpo, por falta de cuidados.

Seus tempos de glória em que ele postava-se imponente no alto da estante pareciam-lhe um passado tão longínquo que nem lhe causavam saudades. Ainda mais ali, jogado no meio do assoalho como se todas as palavras que guardava com tanto carinho, para qualquer um que as quisesse, não tivessem nenhuma importância.

E durante uma eternidade, com longas noites melancólicas, essa foi a sua única existência, sem qualquer beleza ou utilidade.

A Irrealidade dos “Reality Shows”

“Reality shows” são programas de entretenimento, que têm como objetivo atingir grandes massas e causar polêmicas com o propósito de aumentar a audiência.

Portanto, apesar do nome, este tipo de programa não “mostra a realidade” em si. Primeiramente, na vida real não ficamos presos em um lugar convivendo com as mesmas pessoas (inicialmente “estranhas” ou “desconhecidas”, como preferir) 24 horas por dia, durante semanas ou meses.

Mesmo quando não consideramos Estes “reality shows”, e sim programas que mostram apenas um evento isolado na vida de uma pessoa, também é complicado pensar naquilo como a realidade absoluta.

Existe um modelador de opinião, que manipula o que as pessoas irão assistir, logo, manipula o que o telespectador irá pensar e julgar.

Sendo assim, o que vemos nos “Reality shows” não podem ser considerados amostras da vida real. Enquanto vivemos, não existe alguém que manipule o que vemos ou ouvimos. Nós podemos enxergar o que quisermos.

Ps.: Toda essa argumentação para demonstrar a utilização errônea do termo “Reality Show”.

Você já sentiu medo?

Quando ouvimos essa pergunta a primeira coisa que nos vem à cabeça é aquela que estamos acostumados a responder. Medo de algum animal, de algum lugar, de alguma coisa, enfim, mas não é desse tipo de medo que estou falando.

Estou perguntando sobre o pior tipo de medo que existe, e que, ao mesmo tempo, é o mais raro. E aconteceu comigo nesta semana.

Medo que te faça gritar, fechar os olhos com força para esquecer, que te faça chorar, ainda não é o pior medo.

Medo que te faça correr, se esconder, rezar; ainda não é o pior medo.

Medo que paralise seus músculos, esbugalhe seus olhos, surpreenda seus instintos, ainda não é o pior medo.

O medo que eu senti essa semana, não só paralisou o meu corpo como a minha mente; como o meu coração. Eu não conseguia pensar com clareza, saber o que estava sentindo... não sabia nem como agir. E toda essa confusão tomou conta de tudo à minha volta e dentro de mim. Perdi completamente o controle das coisas. Estava totalmente desorientada e nada mais parecia ser problema ou solução, branco ou preto, realidade ou fantasia; e eu me encontrava imersa em um mundo que eu não tinha domínio; então o medo se apoderou de mim.

Um medo sem solução, sem causa ou efeito. Medo, puro medo. E eu não mais parecia respirar, pensar, me mover, agir. Não tinha querer ou precisar.

Estava parada, imóvel, congelada.

Congelada pelo medo... Medo de um olhar.

quinta-feira, abril 01, 2010

Fatos ocorrentes do Dia a dia

Um dia desses, me atrasei para um compromisso. Bem, sinceramente, não que isso seja um acontecimento totalmente inédito na minha vida, mas o impressionante foi desenrolar dos fatos. E aí vão eles:

Estava lá eu no ônibus, amassada e contente como uma sardinha enlatada, *básico*, eis que de repente eu olho para a parte de trás do mesmo, não deu dois segundos e uma mulher caiu desmaiada... Estabacando-se no chão...

Minha reação: O.O

Então quem estava perto tentou socorrer a moça como podia, o ônibus parou, o motorista desceu, algumas pessoas também saíram...

Eu, que já estava atrasada fiquei Ainda Mais Satisfeita com isso!

Depois de um tempo, resolvi imitar algumas pessoas mais impacientes do que eu e caminhar para o ponto seguinte para pegar o próximo ônibus.

Só não imaginava que tinha a distância de uma Maratona de um ponto ao outro! E é claro que esse tipo de coisa não costuma andar só, a avenida além de comprida era uma ladeira!

Após uma longa e cansativa caminhada com a minha singela mochila que mais parece com o casco de uma tartaruga, estava ao atravessar de uma rua de distância para alcançar o Tão Sonhado Ponto, que o que passa ao meu lado??

Sim. A droga do meu Coletivo.. ¬¬'

A minha pessoa na mais inocente e pura esperança infantil pensei "Ah.. Nessa avenida esse ônibus passa de cinco em cinco minutos no máximo... Tudo bem!".

¬¬'

Não preciso nem dizer que não foi isso o que aconteceu, não é?

Mas mesmo assim vou dizer para não restarem dúvidas, Lá estava eu... Esperando.... Esperando... De repente, vi um ônibus vindo! Não... Não é o meu... Sentei... Esperei mais... Opa! Esse sim é o Meu bus!! Esse mesmo, que tem gente pendurada na porta e nas janelas e é claro que eu não iria conseguir entrar...

Ainda assim eu tentei... Permaneci naquele empurra-empurra típico... Faltavam pelo menos três pessoas, além de mim, que ainda lutavam em vão para se espremer ali... Quando eu avisto um outro ônibus igualmente lotado chegando...

Pensei rápido e desisti daquele que estava e fui tentar entrar no que acabara de chegar.

Depois de muito custo consegui!!

Pois bem, enquanto me esforçava para conseguir algum oxigênio para respirar, e tentava calcular uma maneira eficaz de atravessar toda a parte da frente do ônibus, passar a catraca e descer; o ônibus parou de novo... Após uns instantes o motorista (que com certeza deve ter enxergado o que estava acontecendo.. O que não era o meu caso, já que estava prensada na porta), começou a xingar de todos os nomes ruins conhecidos, por ter se formado um trânsito anormal (se é que isso pode ser levado em consideração, se tratando de São Paulo).

Bom, pra encurtar a parte que eu fiquei me perguntando a razão daquele desaforo... E tentando me lembrar se eu havia cruzado o caminho de um gato qualquer ou passado por baixo de uma escada, ouvi a razão da parada inesperada... Mais um dos Motoboys doido dessa cidade tinha se acidentado... (na frente do ônibus que EU estava!!! #comofas?) e pelo que parecia não ia sair dessa não.... Iria tornar-se estatística.. Isso sim.

Encurtando, depois de algum tempo ali... E mais um tempo andando em velocidade demasiadamente reduzida... Já que o ser humano não consegue deixar de se maravilhar com a desgraça alheia, e tem a necessidade de diminuir a velocidade do carro para que o tempo apreciando o corpo jazido no chão se prolongue...

Consegui finalmente chegar ao cursinho!!!

Quase ouvi os ecos de "aleluia. aleluia" ...

Para ter uma empolgante aula de revisão de matemática do ensino fundamental!

Dramatização: “Faz Parte do Meu Show”.

Fronteira

A fronteira entre o receio/medo e o preconceito/discriminação é muito estreita e frágil. E hoje, eu percebi melhor isto, tentarei explicar para você.

Eu tenho a audácia de dizer que sou uma pessoa que não discrimina ninguém. Acho hipocrisia dizer que alguém não é preconceituoso, pois todos nós, sem exceção, somos. Mas isso é discussão para um outro momento.

Limitar-me-ei a descrever o que aconteceu hoje, poucas horas atrás.

Estávamos, eu e mais três amigos, conversando em uma praça próxima a um metrô. Quando fomos abordados por um senhor, morador de rua, pedindo ajuda.

Inicialmente, pensei nele sendo mais um dos muitos que nos abordam diariamente. Estava, até então, decidida a não contribuir, já que não tenho mesmo o costume de fazer isso, pois tenho receio de estar alimentando o vício de alguém. Mas, aos poucos, com sua sinceridade comovente e olhar desprovido de malícia, conquistou não só a mim, como aos meus amigos também.

Na tentativa de ajudar, reviramos nossas mochilas e carteiras, encontrando, no entanto, apenas poucas moedas.

Meu amigo então, disse: “Espera, não é dinheiro para comprar comida para os seus filhos que o senhor precisa?”.

“Sim. É isso mesmo, jovem”. Respondeu aquele senhor, que me surpreendeu por falar tão bem, contrastando com sua condição de vida.

“Que tal então, nós irmos àquela mercearia que tem aqui perto? Podemos ajudar o senhor lhe comprando comida.” Sugeriu meu admirável amigo, enquanto eu pensava: “É claro! Como eu sou burra por não ter pensado nisso também”.

Conversamos sobre todas as possibilidades de melhoria de vida dele e de sua família, sugerimos onde ele poderia procurar serviço, o que ele mostrou estar deveras interessado. E ouvimos um pouco de sua história também. Comovente como muitas outras que conhecemos.

Na mercearia, compramos pães, pacotes de biscoitos recheados, caixinhas de cenouras e feijões pré-cozidos e um pacote de balas de yogurt, para fazer um agrado para as crianças dele.

Quando entregamos as sacolas, ele mostrou-se realmente emocionado, nos agradeceu muito, dizendo que éramos os primeiros a ter feito uma coisa dessas para ele.

Mesmo envergonhado pela sujeira em suas roupas e mãos, nos pediu um abraço como forma de agradecer o que estávamos fazendo. Muitos, é claro, ficariam com nojo de abraçá-lo – como quem abraça um amigo, alguém que mora nas ruas e que mal conhecemos.

Entretanto, não pensamos nisso, abraçamos aquele senhor, que finalmente se apresentou. Um angolano (quase sem sotaque) que atende pelo nome de Johny ou João, como ele próprio disse.

Despedimos-nos, desejando bênçãos de Deus uns para os outros, e fomos embora.

No caminho de volta, comentei sobre a semelhança da situação com o livro O Vendedor de Sonhos de Augusto Cury. E meu amigo lembrou-se do que costumam dizer, que Jesus aparece na forma de pessoas pobres para testar nossa bondade. Enfim, qualquer que seja a crença, o importante é seguir “Fazer o bem sem olhar a quem” em todos os sentidos que esta frase proporciona.

Bem, viemos conversando sobre o ocorrido, torcendo para que tenhamos ajudado Johny e sua família e para que ele consiga mudar o curso de sua história. Falamos também sobre política, as atitudes do ser humano, problemas urbanos e suas soluções.

No entanto, o que me prendeu mesmo em uma reflexão foram as possibilidades: e se o tivéssemos discriminado desde o princípio? Não teríamos ajudado... O que nos fez dar “confiança” para que ouvíssemos o que ele tinha a dizer? Será que conseguiríamos fazer mais pela sociedade em que vivemos se nos despisse dos preconceitos e discriminações e prestássemos atenção na existência, carência e necessidades de pessoas como Johny?

Se tivéssemos ignorado a realidade que veio nos abordar hoje, não teríamos vivido essa grande experiência e reforçado a convicção de que enxergamos o mundo da maneira correta.

Dias como o de hoje me lavam a crer, cada vez mais, que a melhoria da nossa sociedade está mais em nossas mãos, pensamentos e atitudes do que somos capazes de imaginar.

O acontecimento aqui descrito abre um leque enorme para inúmeras reflexões e discussões, mas por agora, pararei por aqui!

Fiquei muito feliz por todos esses acontecimentos e o que eles me proporcionaram, e agradeço muito por isso. E termino este texto com o sentimento de esperança de que dias como este, se repitam muito em minha vida!