Páginas

domingo, março 17, 2013

Então...

é como correr uma maratona sendo sempre obrigado a continuar, porque não interessa saber se você quer aquilo; se você se sente bem e preparado; qualquer que seja sua forma física; não interessa o seu bem-estar. A única coisa é que você é obrigado a continuar em frente, sem linha de chegada; sem começo ou fim; se você cansar, alguém te força; se você perguntar ou argumentar, ninguém te escuta; se você parar, pode ser empurrado; se cair, é forçado a levantar-se. Não há escolha a não ser correr, seja chorando, tropeçando, esfolado, sangrando. Não importam esses detalhes, contanto que você continue incessantemente correndo. A direção ninguém se mostrou interessado a te contar, mesmo que soubessem. Então você continua a correr e correr, sem ter motivo ou intenção, sem ter sentido ou direção, apenas seguindo aquela massa interminável de pessoas correndo como você. Não é possível descrever a agonia e angústia sentida por aqueles que não se encaixam, aqueles que vinham em suas bolhas de cristal, infantis, flutuando com sonhos e fantasias, imaginando um mundo de descobertas e conquistas; e quando finalmente crescem e as bolhas se estouram, caem desnorteadas nesse mundo de correria, e pouco a pouco seus sonhos e expectativas somem, desmancham, são esquecidos ou viram bobagens deixadas de lado; fazendo-os mais uma gotícula nessa onda sem fim. E claro que existem aqueles que se adaptam rapidamente, geralmente são os mais espertos, mais rápidos e/ou os mais fortes; ou ainda aqueles que simplesmente acreditam, e se completam com aquela corrida, que aparentemente é sem sentido, mas que para eles é o que dá sentido ao mundo. Sendo um ou sendo outro, a mim ambos causam certa inveja, porque mesmo que você pense que é diferente e que não se encaixa no mundo, se este sentimento não te causa dor e sofrimento todos os dias, então você ainda tem salvação. Quanto a mim, olho ao redor e sinto inveja daqueles que correm. Uns parecem até graciosos, outros despreocupados, outros zelosos demais, vários daqueles competitivos, milhares de tipos de corredores. E eu sinto inveja de todos eles, porque pareço uma piada, de mal gosto. Fraca, covarde, torta; completamente inapta a correr, e no entanto, jogada neste mundo. Olho ao redor e não vejo muita gente que ainda preserve o cristal, o cristal dos sonhos, uma esfera perfeita, porém extremamente pesada, que dificulta meus já terríveis movimentos, e que eu escondo da maneira que posso. Escondo porque a maioria já se livrou das suas e tentariam me convencer de que eu deveria me livrar também. E escondo porque ela é altamente preciosa para mim, é o meu tesouro e os meus segredos, é a junção dos meus sonhos com a minha verdadeira essência. Se perder a esfera, significa perder a mim mesma, se significa deixar de sonhar e de preservar o meu cerne, então prefiro sofrer, continuando a carregar o peso, a correr desastradamente, a me ferir, a cair, a prosseguir; até que eu encontre uma saída. Porque para sempre confiarei que ela existe, e vou guardar a minha esfera para tal momento, pois creio no caminho calmo e estreito onde é possível caminhar passivamente, observando a beleza e se inteirando à verdadeira grandeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário