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segunda-feira, outubro 03, 2011

Olho Gordo

Cansada de sua própria inveja, ao ver aquela odiosa perfeitinha exibir seu êxito, com méritos, em mais um exame para suas amigas, ela levantou-se puxando de sua bolsa uma arma – que foi pega às escondidas de seu marido policial.


Tal ato paralisou a todas na sala. Neste momento, havia apenas as duas em pé. Ela, nervosa e praticamente gritando, exclamou:

- Você acha que é melhor que todo mundo aqui, não é?

- Jamais pensei assim. Isso é você quem está dizendo.

Sentindo o sangue lhe subir à cabeça, não agüentava mais seus próprios pensamentos: se esforçava e forçava-se a ser tudo o que não era e a perfeitinha fazia tudo tão naturalmente...

- Como pode ser tão arrogante? Ela disse tentando manter sob controle a sua raiva.

- Como assim?

Como ela odiava aquele tom de inocência, aquele jeito tão doce de falar, mesmo quando dizia coisas sérias. Ela odiava aquela maneira de portar-se: agradável e autoconfiante ao mesmo tempo, completamente franca. Tão... tão... perfeitinha!

- Odeio quando faz isso! Tenho até vontade de... – Finalmente ela se controlou por completo, foi, porém, um pouco tarde.

- De quê? De me matar?

Um momento de silêncio, e toda a tensão concentrou-se ainda mais. E o discurso prosseguiu:

- Sabe, já há algum tempo não confio em você. Vejo agora que eu tinha razão. O jeito que olha para as pessoas... Mas você não era significante o suficiente para que me incomodasse. Caso deseja me matar, vá em frente. Pense, porém, nas conseqüências. Perante a lei, dos homens, terá cometido a atrocidade de um assassinato por razão fútil e sem chance de defesa. Perderá seu direito à liberdade e à chance de ter uma vida digna. Marcará de forma traumatizante a vida de todas as nossas colegas aqui presentes. Não conheço seus princípios, mas eu acredito na vida após a morte e na eternidade. Acredito, portanto, que me matando você carregará todas as máculas por: roubar de mim o direito de viver; roubar de meus pais o direito de ter uma filha; roubar de minha família e amigos a minha presença nas festas e reuniões; roubar de meu namorado uma provável vida em minha companhia repleta de próspero amor e felicidade; roubar de meus futuros filhos o direito de ter uma mãe. Não sei como pensas, entretanto eu não conseguiria conviver com o peso de tantos atos terríveis. Seja como for, faça a escolha que quiser. Peço apenas que decida com prudência.

Confusa, ela baixou o braço.

Foi presa por tentativa de homicídio.

O que é certo, é certo. Mesmo na terra dos homens.

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