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sexta-feira, setembro 09, 2011

O óbvio complicado

"Sou tão óbvia, que acho que fico complicada." Foi o que ela ouviu-se dizendo ao telefone. As lágrimas mais uma vez já haviam secado. Já desistira de entender o motivo de chorar tanto nos últimos meses, pensava às vezes que estava compensando todo o restante de sua vida - ela não tinha o costume de chorar, na verdade não chorava. Mas isso era passado, porque agora tudo era diferente.
O que ela mais precisava era dele, o que ela tinha dito era isso. E sem esperanças ela o ouvia dizer que não sabia como ajuda-la. Problemas insolúveis, sem ânimo, sem força de vontade, sem dinheiro e sem companhia. Parece um pouco melancólico demais, mas é isso o que acontece quando todos tem compromissos inadiáveis.
Ela não era prioridade de ninguém, ao contrário de todos que ela amava em sua vida. Sim, ela era diferente. Mas isso ela já sabia.

Talvez os seus problemas não fossem os maiores do mundo, ou os mais complicados. No entanto, não achava que era fácil passar por tudo aquilo. Colher os frutos dos erros que não eram seus. Ter vontades simples que não podia satisfazer. Tudo bem, nunca foi o fim do mundo, e ela sabia disso. Mas seria tão horrível assim para todo o universo se ao menos uma vez as coisas acontecessem conforme o que ela desejasse?

Ela olhava para a tela do celular que indicava "Call Ended". Totalmente incrédula que mais uma vez tudo terminara da maneira exata como havia previsto. Sua maior emoção na vida foi quando pela única vez foi verdadeiramente surpreendida, e ela jamais esqueceu tudo o que sentiu naquele dia único. E isso a fazia mal, porque tudo o que queria era sentir aquilo tudo novamente. E até aquele momento, isso não havia acontecido e nem tinha sinais de que poderia voltar a acontecer de alguma forma.
"É só parar de esperar pelas coisas, que você pára de se decepcionar" disse para si mesma, sabendo que aquilo não iria funcionar com ela.

Mais uma vez via-se acordada de madrugada, sentindo-se culpada por não estar dando ao próprio corpo as merecidas horas de descanso, mas também incapaz de aquietar sua mente o suficiente para dormir.

Não era justo pedir ou esperar que a pessoa fizesse por ela o que precisava, certo? Mas qual noção de justiça temos? Não podemos comparar coisas diferentes em vidas diferentes, tempo e espaço diferentes, sendo assim, como estar seguro em tal julgamento?
Ela queria ter forças para ajudar... Mas como ajudar alguém que não aceita ajuda? Como ser forte contra algo que é exatamente o que lhe tira as forças?


Ela fechou seus olhos e com todo o coração desejou: "Por favor, aceite apenas uma vez a ajuda que lhe ofereço. Não vou resolver nada, nem mudar o mundo. Mas entenda, quando dizemos que estamos juntos, estamos juntos mesmo nos momentos ruins ou estranhos, que não sabemos o que fazer ou o que pensar. Entretanto, uma coisa tenho certeza, se estamos juntos, podemos também pensar juntos. Por isso, por favor, te imploro, divida comigo o que guardas com tanto pudor em sua mente. Satisfaça este simples desejo que arde em meu coração. Por favor, como prova de seu Amor."
E assim, cerrou os olhos e adormeceu. Esperando o próximo dia chegar. Com a imprudente ponta de esperança de que desta vez, este dia dará certo.

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