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domingo, fevereiro 27, 2011

Alvorada do Primeiro Dia

Era o primeiro nascer de sol de um novo ano. O frescor do ar agradável com sua umidade fria o suficiente para me fazer estremecer de prazer sem chegar a me incomodar. A cada rajada de vento esfregava as mãos nos braços mais por reação automática do que por verdadeiro frio. Saí de casa ainda de madrugada, e agora contemplava toda aquela paisagem interiorana com uma satisfação saudosa. Eu em minha blusa vermelha refletindo em meio ao gramado verde e vivo. Os poucos pássaros faziam-me companhia mesmo sem me dar atenção alguma. No ponto mais alto em que me encontrava, fitava pinheiros e lagoas, instalados pela mão do homem, porém ainda assim não posso deixar de admitir sua beleza. Esperara por aquele momento há muito tempo. Admirar a paz do raiar de um novo dia, descompromissado, livre. Enquanto por dentro uma batalha era travada.

O sol despontou aos poucos no horizonte. E lentamente como ele subia à minha frente, eu me conscientizava da missão que me fora concebida. A lua insistia em ainda se mostrar no céu, assim como a meu desejo e esperança de conseguir fazer tudo o que era do meu querer, no meu tempo e vontade. Todavia, assim como a lua percebeu que ali não era mais o seu lugar, este sentimento se deu conta de que não estava certo e que não tinha propósito insistir em permanecer na minha mente e coração. Tomei consciência então de que muito teria que aguentar, agradecer, superar, admitir e mudar neste novo ano.

Tudo em nome de uma coisa que não é nem um pouco nobre se admitir, e, no entanto é usado constantemente por muitos como a desculpa, o motivo e a isenção de muitos atos contestáveis. Tudo em nome do amor.

Tinha medo de aceitar, mas algo me incomodava profundamente. É difícil admitir sua fraqueza. Principalmente quando não há defesas, não há nada que possa ser feito. Sempre tive muito orgulho para admitir as minhas fraquezas. E lá estava eu, morrendo de medo. Tudo o que eu queria estava em outro lugar. Tudo o que eu precisava estava com outra pessoa. E uma parte enorme de mim me faltava. Admitir que alguém pudesse me desestabilizar daquela maneira, mesmo à distância, mesmo sem sabê-lo, seria completamente incabível em outros momentos. Entretanto, era o que estava acontecendo.

Sonhar de novo. Não há nada mais assustador que isso depois de uma decepção.

O sol já se encontrava em seu lugar, no posto mais alto do céu. Quando eu finalmente consenti ao meu coração a aceitação do que estava acontecendo. O tempo todo eu senti a sua falta.